quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vôlei é um esporte feminino?

A antropóloga Juliana Coelho decidiu fazer uma análise do segundo esporte mais popular no país: vôlei. A idéia surgiu do velho conceito no qual se costuma rotular a modalidade como um esporte feminino. A conclusão do estudo é polêmica: enquanto homens escolhem futebol, mulheres e homossexuais preferem o vôlei.

“A feminilidade e o homossexualismo não têm vez no universo futebolístico. (...) O vôlei acaba se constituindo em um espaço de sociabilidade feminina e homoerótica. Mais do que isso, acaba se tornando um esporte híbrido – uma vez que permite cruzamentos, misturas, bricolagens entre o que consideramos masculino e feminino”, diz o texto.O estudo, intitulado “Voleibol, um espaço híbrido de socialização esportiva”, faz parte do livro "Visão de Jogo - Antropologia das Práticas Esportivas", coletânea organizada por Luiz Henrique de Toledo e Carlos Eduardo Costa, lançado na semana passada, em São Paulo.

Para chegar a essa conclusão, Juliana analisou pesquisas que mostravam que o número de torcedoras de vôlei, no site da Confederação Brasileira, era maior do que o de torcedores. Além disso, em um shopping, ela também constatou que as mulheres preferiam uma bola de vôlei a uma de futebol quando tinham de optar por uma das duas opções.Além disso, analisou o comportamento, na internet, de pessoas que discutiam o esporte. E constatou que existe, no Brasil, um imaginário que não insere o vôlei na lista de esportes masculinos.

Em entrevista ao UOL Esporte, Juliana evitou confirmar o rótulo “vôlei é esporte de mulher”. Mas admitiu que o universo feminino é muito mais presente. “Quando eu comecei, achei que iria encontrar um esporte predominantemente feminino. Mas as pesquisas mostraram, na verdade, uma proporção de três mulheres para dois homens que gostam do esporte. Na verdade, o vôlei é híbrido. Se compararmos com o futebol, ele não é masculino ou masculinizante. É mais plural. O vôlei aceita muito mais quem não se encaixa nessa masculinidade hegemônica que o futebol prega”, completa Juliana.

Procurado pela reportagem,do Uol Esporte, o preparador físico da seleção brasileira feminina e especialista em psicologia esportiva, José Elias de Proença, se negou a comentar as conclusões do estudo sem ter analisado o texto. Mas admitiu que o vôlei é muito mais aberto do que outras modalidades.“Todo esporte é democrático. As pessoas que praticam é que demonstram um preconceito. Sem analisar a conclusão do estudo, o que eu percebo é que o vôlei é mais democrático, mais plural. Não existe uma relação de exclusão”, disse Zé Elias.

Ricardo Navajas, um dos técnicos mais vitoriosos do país - ele deixou o vôlei e trabalha com futebol – também foi entrevistado. Para ele, não há dúvida de que o vôlei, pelo menos entre torcedores, é mais feminino do que masculino. “O público que acompanha o vôlei é mais feminino. Isso é uma realidade que não podemos negar. Agora isso não quer dizer que seja um esporte feminino”.

Seguindo a linha de Navajas, Kátia Rúbio, Presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, usa os resultados do Brasil no vôlei internacional para refutar a afirmação. “O vôlei masculino é anterior ao feminino no Brasil. E se fosse um esporte para mulheres no Brasil, não teríamos tantos jogadores, nem tantas conquistas”.

com informações de Bruno Doro/Uol Esporte

Um comentário:

Anônimo disse...

O ser humano tem dessas. Pra tudo tem que colocar um rótulo. As coisas devem possuir delimitações bem claras, masculino e feminino, velho e novo, bonito e feio, hetero ou homo, bom ou mal, certo e errado, feminino ou masculino. Por isso que existe tanto preconceito. Vôlei é um esporte, e esporte não tem sexo. Pratica quem tem paixão e vocação, independente de sexo ou opção sexual.